segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ferida



Três pétalas feriram

de amarelo mais um livro:

não sei que pensamentos,

olhando aquelas manchas,

me deixam empedernido.

Ficarão ali durante

o eterno que se escoa?

Atravessarão – punhais –

o peito de todo canto?

Meus olhos são essas folhas

trespassadas de espanto.



Poema de Kalliane Amorim

Ofício


Minha avó punha linha nas bobinas,

e na máquina de pedal

o seu pé ia e vinha,

emendando retalhos

para a família

que em seu colo crescia.


Ah, mas que triste essa outra sina

de nas bobinas só ter palavras,

e nas palavras, tantos destinos,

e só saber costurar retalhos

para as mortalhas de minhas vidas!



Poema de Kalliane Amorim.

domingo, 9 de maio de 2010

Ainda a doçura de Cora...



Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.

Um domingo com a doçura de Cora Coralina



Saber Viver

Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto dura.